quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Desconcertos... Por Ba

 Desconcerto
            I
Todas as palavras dolorosas
que amorteci por amor
jorraram na minha cabeça.

Todos os raios de olhar
que aparei melindrosamente
cravaram-se no meu coração.

Sinto-me pesada
de tanta mágoa despertada.
Sinto-me triste
porque sei o que sinto hoje.
Sinto-me perdida
porque não sei o que vou sentir, amanhã.
             
                 II
Que vontade de acordar cedo,
de começar o dia o quanto antes.
Mas nunca acordo a tempo.

Que vontade de ordenar
tudo quanto há no meu lar.
Mas é custoso fazê-lo a tempo.
Que vontade de te procurar
esquecer quem és
e te arrasar.
Mas ainda não é tempo
Mas ainda não é tempo?!

Que vontade de desistir
quando nenhuma porta se quer abrir.
Mas sem que nada eu compreenda
a luz apaga a escuridão
e tudo recomeça
em nova contradição.
               III
Cresço para a morte
e o tudo passa a nada.
Morro para a vida
e o tudo passa a nada.
Corro para o sonho
e o nada passa a tudo.
                IV
Dizem que amar é viver
e eu sei
mas não quero saber.

Dizem que o amor é dor
e eu sei
mas não quero saber.

Dizem que a paixão é ardor
e eu sei
mas não quero saber.
Não quero saber.
Não quero saber.
Não quero saber.
               V
Trata-se de um silêncio
que me ensurdece
por breves e longos instantes.

Trata-se de um discurso
que leio no teu olhar
que penso que leio no teu olhar
que imagino que leio no teu olhar.

Trata-se de ouvir
palavras não ditas
e de dizer, nada.

Trata-se de ter-te
nos meus pensamentos
numa longa onda de frequência
que não sintonizas.
Ou será que sim?

Trata-se de um futuro
que se inventa e se cumpre
a cada eterno instante.
             VI   
Ouvi teclas e cordas
numa noite com fim.
Segui as lâminas do teu passo
e fui dar àquele jardim.

Melodias soltas,
olhares cruzados,
lábios ardentes
e corpos molhados.

Que clave te norteia?
Que figura sou eu?
Semibreve poderia fazer sentido,
mas… não ia de encontro ao prometido.
Mínima? Semínima?
Será que sou apenas um silêncio?
Ou estarei a fazer figura de neuma?

Ainda há pouco estava clarividente
mas, agora,
sinto-me tão semifusa…
                 VII
Despeço-me de ti
Quando ainda mal te encontrei.
Desejos amarrados.
Palavras mudas.
Olhares gritantes.
Carícias contidas.
Mãos separadas.
Abraços perdidos.
Corações apertados.
Ainda mal te vi
e já me despedi.






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