terça-feira, 4 de outubro de 2011

Outonais 2

Outono míope...Por AA
(Cinco breves poemas míopes de Outono escritos em breves cinco minutos)*

1. Ontem vi três folhas breves.
Deslizavam suaves pelo ar, cada uma dançando com outra.
Tentei agarrar a mais dourada, mas tropecei e parti a cabeça.

2. Apaixonei-me por ti ao primeiro vislumbre.
Sorri, ao ver as estrelas douradas desprendendo-se dos teus cabelos.
Pus os óculos e eram apenas folhas de Outono.

3. Debaixo da árvore seminua, parecias uma pintura deMonet, teus cabelos pontilhados e brilhantes.
Alonguei meus dedos e toquei esses pontos que enfeitavam o douradodos teus cabelos.
Era só merda de pombo.

4. No banco de jardim, o teu corpo sorria enquanto eu,olhando-te de longe,dançava na distância do amor impossível
.O escultor que te fez, já morreu há mais de cem anos.

5. No lago do Campo Grande, remamos mansosum para o outro.
Mais cinco metros e poderás ser minha.
O teu olhar está preso no meu e as ondas que suavesnos embalam, são ouro como as folhas no Outono.
Pena a ponte baixa que não vi e me fez cair do barco.

*”Poema” inspirados numa história verídica contada pela Paula.


Ruas De Outono... por Xue

Toda estação muda o tempo,
Tranformam-se as cores,
Os caminhos se enchem de folhas .
Estas tomando o lugar das flores.

E como um tapete natural
vamos deslizando pela vida
Um flanar morno no espaço
Num silencio quase celestial

Silencio que é quebrado apenas
Pelo farfalhar do vento indo e vindo
E o movimento de meus passos
Voce não voltas mais meu amor.
Vou juntando meus destroços

Percebo esta luz amarela
Que faz da tardinha  tristonha
Uma imagem única.
E por um breve momento
Consigo me esquecer a dor.

Reinventa... por BA

Sopraram-me à porta
em jeito de pulsação.
Espreitei a ver quem era
mas a ninguém estendi a mão.

Era o Outono precoce,
em figura invisível
de vestes laranja, compridas,
numa postura incrível!
Nunca assim tinha visto!

Parei-me de admiração
e ele falou-me que vinha
por uma simples razão:
aquecer o meu coração!
Sabia do meu desamor,
do meu Inverno no Verão
e diz que para coisas assim
não há como mudar de Estação.

«Que me trazes tu, então?
Boas novas para me alegrar?»

Mas ele não trazia nada
diferente para me ofertar:
sol e chuva, sombra e vento,
incertezas a todo o tempo.

«Como queres tu, então,
aquecer-me o coração?»

«Com cor e imaginação.»
Disse-me ele com cautela
mas muita determinação.
«Cada uma das minhas letras
segreda luz e ilusão;
reinventa os teus desejos








                                                                                Calor de Outono - a propósito de sentir os poemas... por PaulaJ
Mais um dia de verão, de gin com coca-cola gelada, de sede
Abro o caderno rasgado nas folhas verdes, as dos poemas
Não os entendo, leio-os, não os declamo, sinto-os e cuspo-os
Poemas que não se dizem, que estão cá dentro, que me sufocam
Quando os meus lábios se tornam mais rápidos que a manhã
Os poemas de Outono, os das folhas caídas, das cores do Gerês
Os que têm todos os odores frescos num frasco cheio de mel
Às vezes também sou um poema, quando desapareço nas salinas
E os olhos se confundem com os dos gatos enrolados no telhado
Poema que não existe neste calor de tardes infindáveis, de folhas
Porque nem todos conseguimos sentir a espessura das palavras
Que não posso voltar atrás, que moro no aqui e no agora
Que tudo é tão leve como o teu corpo de gatita já triste



Conheço folhas agrestes... por AA

Conheço folhas agrestes que dançamem cima de pássaros doidos,
que bebem a paisagem como espelhos de  sentido único.

Olá, estás boa? Palavras,
 três,ponto de interrogação.
Quem diz isso?
Que pedras ousam invadir o sono
de quem nunca dorme?

Pássaros agrestes caminham por vezes sobre
folhas azuis sem saber da águaa sua sombra.      
Espelhos solitários de sentido único.

Conheço muros que se desfazem na insensatez do seu
sonambulismo.                                            
Que nunca dormem, mas ferem de palavras a paisagem
arrumada em cestos de verga.
Onde está o sentido do Verão?            
Que rua se solta quando gritamos?                      
Que passos não damos      
quando espelhos, como folhas loucas
enchem de tinta os nossos ouvidos?  
Não há flores que resistam
 ao passar suave da minha loucura.

Conheço muros e conheço ervas,
 fantasmas que teimam em dizer   ali ou
aqui.      
Nuvens desfeitas por palavras breves.    
Mas o que importa
se cinco páginas valem mais que duas vidas,
tres  sonhos  mais que uma paisagem,
um graal, uma eternidade?
Há palavras loucas na sua simplicidade
que me fazem acordar a meio da noite,
vermelhas,que dançam nas paredes e,
 ali quieta,  a minha toalha,
ou a minha sombra.

Olá! O dia está excelente e podemos
voar.
Anémonas azuis repletas de Verão.
Água.
Conheço algas que como portas
se abrem no seu silêncio aquático,  
como livros bebem os olhos e gritam  
riem da boca que soletra a sua paisagem.
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Terrível  gosto este das bocas,
dos centímetros que navegam
sem rumo.   Pedras soltas.
E conheço folhas agrestes que dançam
suaves em cima de pássaros
           
paisagensde sentido único.
 Olá!
Estás boa?

O verde é apenas a refracção de um raio
vermelha   a porta com que te
chamo,    
incêndio!,
incendeio os meus dedos,
grito e mudo te olho,
mundo.  
Cor.  
Reflexo.  
Silêncio.

Conheço imagens em papel e tinta que
bebem agrestes os silêncios,    
como pássaros de sentido único,
ouvindo espelhos doidos.
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Cinquenta anos depois,
bebo a paisagem
e não sei o sentido.




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